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Nossa CiberVida 1.2 [Diário da Manhã - 11/08/2010]

Nossa CiberVida 1.2.
Exclusão digital: O que o professor tem a ver com isto?!?


Olá, em nossos últimos encontros (*) propus algumas discussões acerca da exclusão digital. No primeiro, forneci algumas pistas para que você detectasse, ou não, sua condição de excluído; o segundo tratava das implicações da exclusão digital na vida de cada um de nós. Neste último, propositalmente, dei ênfase às questões financeiras, alertando é claro que não se tratava somente disto. Pois bem, aqui trago outro elemento importante para considerarmos: o papel do professor, sujeito que, frequentemente, se enquadra na classe dos principais excluídos digitais.

Alerto de antemão que, na condição de docente a mais de 15 anos, não tenho por objetivo imputar ainda mais responsabilidade sobre nossas costas de professores, já suficientemente maltratadas pela chibata do descaso histórico com a educação e seus profissionais. Entretanto, não podemos virar estas mesmas costas para nossas responsabilidades, especificamente no processo de dar sentido ao processo de informatização crescente dos ambientes de ensino. Assim, professores e professoras, sintam-se desafiados e desafiadas, e convidados a fazer parte deste grupo e a refletir sobre esta temática.

O primeiro elemento que trago é referente à sociedade da aprendizagem, processo fundamental para que as informações, disponíveis em escala global, possam de fato, constituir-se em conhecimento, o bem maior da humanidade.

Outro ponto importante para a discussão, diz respeito às tecnologias presentes nas escolas como potencializadoras do processo de aprendizagem na medida em que abrem novas formas de interação e de comunicação aos seres humanos – argumento que vou tratar em outra oportunidade.

Por fim, a forma desigual com que, tanto as informações, quanto as tecnologias estão distribuídas em nossa sociedade, inserindo-se em um processo de Exclusão Digital, onde poucos têm acesso a ambientes potencializados pelas tecnologias e a bens culturais, enquanto outros são totalmente destituídos deste direito, alargando de forma intensa o fosso existente entre as classes sociais.

A partir deste resgate, algumas questões podem ser levantadas e de forma acanhada em função dos limites do texto impresso e linear, é possível propor algumas reflexões. Por exemplo, como minimizar o processo de exclusão digital, se muitas pessoas não possuem energia elétrica em suas casas? Por se tratar de uma questão de ordem social, ocorreria em uma imperdoável e brutal ingenuidade, apontar uma resposta para esta questão, entretanto, é possível levantar sobre alternativas para, ao menos, minimizar este processo.

Penso que o ambiente escolar, que também sugere muitas e emergentes questões, seja o local propício e mais próximo, não geográfica, mas cultural e ideologicamente, para que aquela grande parcela da população brasileira, submetida a todo o tipo de exclusão e seletividade, possa ter o acesso a tais tecnologias.

Entretanto é importante que se destaque que o simples acesso não é o suficiente, embora seja fundamental. Para que possam realmente potencializar o processo de ensino-aprendizagem, tais recursos tecnológicas precisam fazer parte de um plano didático-pedagógico mais amplo, com objetivos bem definidos dentro das práticas docentes.

E aqui apresento a segunda questão, talvez tão importante quanto o acesso. A formação de professores para atuar com as tecnologias digitais de rede. No decorrer do tempo em que tenho trocado ideias com várias pessoas interessadas pelo assunto, seja através de conversas informais, palestras, pesquisas, aulas ou cursos, foi possível verificar, e continua sendo, como nossos professores, e aqui estamos todos incluídos em algum nível, não possuem esta “nova” competência.

Muitos elementos emergem do binômio educação-tecnologia. Por exemplo, como fica a relação entre aquele que desde os primórdios foi considerado o detentor do conhecimento, o professor, frente a algum elemento que o aluno possui maior domínio, e que por mais que àquele se esforce, dificilmente poderá ter a mesma fluência deste?

Embora não pretenda dar a esta questão um caráter simplista, quero apresentar alguns posicionamentos referentes a este tema, buscando, não apontar soluções, mas parceiros para discussão. Bem, que nossas universidades e os programas de capacitação na área, não preparam os “futuros” professores para atuarem com as novas tecnologias já não é mais surpresa para ninguém. Mas então como minimizar o problema da defasagem de domínio das tecnologias entre professores e alunos? Meu posicionamento é de que este é um processo natural, por vários motivos. A) os nossos alunos já nascem em meio às tecnologias. Quem não conhece uma criança que, desde muito cedo, interage com aparatos tecnológicos com uma desenvoltura inacreditável? B) o tempo que possuem para o contato, geralmente lúdico, com as tecnologias é infinitamente superior ao que nós, adultos e professores, dispomos; C) dentro de nossas escolas vivemos uma realidade de transição também entre os professores, onde coexistem profissionais que já davam aula, antes mesmo de seus novos colegas nascerem, o que, de forma alguma os desqualificam, mas que certamente têm influência direta no posicionamento frente as tecnologias.

Assim, parece-me que existem duas alternativas: Negar a tecnologia, por medo do novo, por desconhecimento de suas potencialidades, ou ainda por comodismo, e fatalmente decretar nossa substituição, não pela tecnologia mas por alguém capaz de fazer dela uma aliada, ou um segundo, que passa pela mudança de postura, chamando o aluno para um processo de construção conjunta do conhecimento através da utilização desta poderosa ferramenta à disposição da educação. Será que temos realmente escolha? Vamos continuar este papo em http://nossacibervida.blogspot.com/?
[]'s Adriano


Adriano Canabarro Teixeira [http://twitter.com/ateixeirars]
Professor do curso de Ciência da Computação da UPF
Pós-doutor em educação a distância
Sócio Infoeduca: Soluções em informática educativa e inclusão digital
http://infoeduca.com.br



(*) Textos escritos em Nossa Cibervida 1.0. - Exclusão Digital: Saiba se você é um excluído! ;-) [Publicado no jornal de 30/06] e Cibervida 1.1. - Nossa CiberVida 1.1 - Ok, eu sou um excluído digital! E DAÍ ?!?!?!? [Publicado no jornal de 14/07]

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