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Opinião dada ao Jornal O Nacional de Passo Fundo em 24/02/2010

>
> Por exemplo, uma escola usa a regra básica do twitter, o limite de 140
> caracteres por mensagem, para que alunos desenvolvam narrativa e
> concisão em minicontos.
> (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101018/not_imp626165,0.php)
> A partir desse exemplo, gostaria de conversar com o senhor. Tentei
> ligar, mas o celular estava desligado.
>

Meu celular anda com vontade própria viu... rsrsrsr mas vamos lá...

> Então, gostaria que o professor avaliasse o uso de recursos
> tecnológico na educação, tanto em escolas quanto em instituições de
> nível superior.

Bueno, veja que estas questões envolvem uma boa dose de subjetividade,
uma vez que não existe um padrão, e uma pitada de sensibilidade e
atenção para avaliar a forma como as instituições de ensino, ainda
baseadas em uma lógica de distribuição de informações e de comunicação
unidirecional (professor fala e aluno escuta), utilizam (ou não) os
recursos tecnológicos.

Antes porém, é preciso que se reconheça que o que está em jogo é muito
mais do que utilizar as tecnologias, o que demanda a presença delas no
ambiente escolar, mas a sua apropriação social, que tem a ver com a
concepção de educação e com o reconhecimento do potencial destas
tecnologias. O meu entendimento de apropriação social está no outro
extremo da relação educacional baseada na linearidade, na transmissão e
na inflexibilidade do currículo, características que em um curto espaço
de tempo levarão à derrocada das instituições de ensino no formato que
conhecemos. Apropriação social tem a ver com uma utilização
contextualizada, inusitada e criativa das tecnologias como base para
processos de comunicação.

Trocando em miúdos, temos um descompasso entre Escola (seja ela de nível
fundamental, médio ou superior) e potencial das tecnologias como as
redes sociais por exemplo. Este descompasso reside no fato de que são
poucas as escolas que, a exemplo do Colégio Hugo Sarmento, lançam mão
das tecnologias que fazem parte do cotidiano dos alunos para dar mais
cor e movimento ao processo de aprendizagem.

> O que pode ser feito, como o exemplo do twitter?

Retomando o que comentei acima, a questão está muito mais ligada à
concepção de educação do que à tecnologia em sim. Esta afirmação
baseia-se no fato de que o processo de aprendizagem está baseado
fundamentalmente em processos interativos e comunicacionais, neste
sentido, qualquer recurso que tenha por base o estabelecimento de trocas
de informações ou de comunicação pode ser utilizado para fins
educacionais (lembremos que estou me referindo à Educação com E
maiúsculo, na concepção mais pura e complexa possível, antagônica a
processos de transmissão de informações)...

Assim, o twitter, e qualquer outra mídia social, possui um potencial
enorme e diretamente proporcional à criatividade de professores e
alunos. Tal conjugação (competência didática do professor e técnica do
aluno) pode gerar desde uma fonte interessante de informações, uma vez
que eu posso seguir, por exemplo, @MarceloTas para ter acesso às últimas
reflexões ácidas e geralmente contundentes do jornalista, ou ainda o
@MiniComBrasil para ficar informado acerca do andamento do projeto
Brasil Conectado, até uma forma poderosa de divulgação de informações de
sua escola, de manifestação e articulação social em torno de alguma
situação, ou de criação de redes de colaboração, de comunidades de
aprendizagem onde as pessoas se aglutinam em torno de um determinado
tema ou interesse. 

> Como explorar a tecnologia a favor dos alunos? 

É claro que esta resposta não é tão simples, nem tão linear, mas penso
que seja fundamental observar a dinâmica de utilização destas
tecnologias pelos alunos for do ambiente escolar, invariavelmente mais
criativa e contextualizada às suas próprias demandas. Ainda, é
importante que os professores modulem sua energia não para dominar a
tecnologia, mas compreender a sua dinâmica e para isto, ninguém melhor
do que os próprios alunos para ajuda-los.

De qualquer forma, me parece que valorizar a diversidade, e criar
espaços e formas de autoria com apoio das tecnologias seja uma das
formas de resgatarmos as características emancipatórias da educação.

> Quais são as vantagens dessa aliança?

Eu diria que as vantagens são as mesmas que obteríamos sem tecnologia.
Ou seja, o processo educativo não é vertical, mas reticular; não é
rígido, mas flexível, não é monocromático, mas colorido. Não é
monológico, mas dialógico; não é informacional, mas comunicacional. E
isto pode ser obtido sem tecnologia. O grande lance do entrelaçamento da
tecnologia em processos educativos reticulares, coloridos, dialógicos e
comunicacionais é o potencial multimídia das tecnologias que
possibilitam o acesso à informação e a publicação do conhecimento gerado
em diferentes formatos e, principalmente, a sua capacidade de conectar
pessoas com diferentes habilidades, conhecimentos e competências,
contexto extremamente poderoso para a aprendizagem.

> Quais podem ser as desvantagens?

Me parece que uma vez não se considerando a competência técnica e a
dinâmica de utilização das tecnologias por parte dos alunos, e
desconhecendo a lógica que está por detrás das tecnologias
contemporâneas como o Twitter, o Facebook, os Wikis, os blogs, dentre
outras, corre-se o risco da banalização da tecnologia, do aprofundamento
do desinteresse dos alunos e o que é mais grave, da consolidação de um
modelo de educação que não tem mais espaço, embora ainda sejamos
teimosos em reproduzi-lo, na sociedade contemporânea.

> A educação trabalhada no método tradicional de ensino (quadro negro,
> giz, tema de casa no caderno, decoração de datas e nomes)  tem
> futuro?

As características que elencaste não fazem parte do que eu, e outras
pessoas, chamariam de educação. De forma simplista, no máximo poderíamos
denominar de ensino. É preciso que se reconheça, também de forma geral,
que educação pressupõe também aprendizagem. Não preciso mais decorar
datas e nomes, pois estas informações, e muito mai, está disponível a
qualquer momento e em qualquer lugar. A educação da cibercultura é
aquela que valoriza e se preocupa mais em aprimorar no aluno habilidades
para localizar, selecionar, contextualizar e refletir conjuntamente
acerca de determinado assunto.

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