Coluna de Setembro da revista Somando
Adriano Canabarro Teixeira
Doutor em Informática Aplicada a Educação, pós-doutor em Educação, professor e pesquisador do Curso de Ciência da Computação e dos cursos de Mestrado e Doutorado em Educação da UPF.
Contato: teixeira@upf.br
Existem muitos palavras que são equivocadamente utilizadas, sobretudo em virtude do desconhecimento de seu real significado por parte de quem as utiliza. Sem dúvida alguma a palavra “hacker” é uma delas. O termo carrega um sentido negativo para a esmagadora maioria das pessoas, por conta do desconhecimento da origem da palavra e pelo imaginário popular alimentado pelo cinema (o norte americano, invariavelmente). E talvez este seja o principal motivo da confusão. Pois bem, neste mês quero colaborar dentro daquilo que, não sendo um cineasta, tenho possibilidade!
A cultura hacker nasceu nos primórdios da internet - estamos falando de 1960 (*) - quando habilidosos programadores, genuinamente convencidos de que a rede mundial de computadores deveria ser livre e construída a partir de tecnologias livres, colaboraram voluntariamente para a definição e implementação de protocolos de comunicação e ferramentas que possibilitariam a troca de informações entre pessoas espalhadas pelo mundo.
A cultura hacker era movida, então, pelos princípios da competência técnica, da meritocracia e pela disponibilidade que cada um demonstrava em colaborar com o bem comum; o que, neste caso, significava criar uma estrutura de conexão entre as pessoas. Em um contexto de “tudo a fazer”, instituído na gênese da internet, a competência técnica era fator determinante para a seleção daqueles que poderiam contribuir na hercúlia tarefa de construir alternativas para algo que, por definição das forças armadas dos Estados Unidos, permanecia fechado e disponível somente dentro dos interesses militares.
Tal competência técnica, uma vez comprovada, outorgava maior ou menor valor aos indivíduos. Valor este que dependia unicamente da amplitude de sua ação e do bem por ele proporcionado à comunidade. Foi a cultura hacker, em grande parte, que fez da internet o que ela é hoje. Os protocolos criados há décadas, frutos do trabalho coletivo, permanecem, ainda, como os pilares técnicos da rede.
Uma vez feito este esclarecimento, seria tranquilamente possível atribuir a palavra hacker a qualquer pessoa que coloca suas habilidades técnicas a serviço da comunidade, tendo como objetivo a sua melhoria. São pessoas que acreditam firmemente que suas habilidades só possuem sentido se colocadas a serviço de alguém. Assim, não é só na área de informática que temos hackers. Qualquer pessoa que possua grande habilidade técnica - em qualquer área - e que a coloca a serviço de um bem comum é, sem dúvida, um hacker!
Com certeza, a esta altura, você deve estar se perguntando: “Mas afinal, quem são os criminosos virtuais retratados os filmes? Aqueles que invadem computadores e roubam senhas?”. Pois bem, estes são os crackers, indivíduos que possuem também grandes habilidades técnicas, mas que as utilizam única e exclusivamente em benefício próprio. E tais “profissionais”, infelizmente, existem em qualquer área :-/ (**)! Mas não são os crackers que importam, e sim os hackers, é deles que o mundo precisa! E aí, quem se habilita?
(*) Sim, a internet já é cinquentenária, e ainda assim, continuamos remando com conexões caras e de baixa qualidade em nossas casas, empresas e instituições de ensino.
(*) Sim, a internet já é cinquentenária, e ainda assim, continuamos remando com conexões caras e de baixa qualidade em nossas casas, empresas e instituições de ensino.
(**) Caso minha explicação acerca das diferenças entre hackers e crackers não tenha ficado clara, aqui vai uma sugestão cinematográfica para ajudar: no filme “Ameaça Virtual” (2001), Milo (Ryan Phillippe) e seu grupo são hackers, enquanto Gary Winston (Tim Robbins) é um cracker.
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