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Sobre tecnologias e educação - Revista em foco

Entrevista dada à Revista em Foco, de Concórdia, Santa Catarina.


 > 1 - Quais
são as formas de incluir as tecnologias digitais nas práticas >
pedagógicas?


Penso que a questão seja mais do que incluir, as tecnologias digitais
já fazem parte do dia a dia dos estudantes e professores, mas sim de
apropria-las em um contexto didático pedagógico. Feita esta ressalva, é
importante destacar que esta apropriação não deve ser a partir da
perspectiva do professor, mas dos estudantes que desenvolvem uma
dinâmica de utilização baseada na descoberta, na criatividade, no
protagonismo, na imersão e na autoria. 

No decorrer do tempo temos verificado que as práticas tradicionais
envolvendo jogos educativos e ambientes virtuais de aprendizagem tem
perdido força no que se refere ao envolvimento dos alunos. Mais ainda,
que a informática na perspectiva interdisciplinar não parece trazer
melhorias significativas no desempenho dos estudantes ou aos processos
educativos em si.
Em um mundo onde não precisamos da escola para termos acesso à
informação, disponível em quantidade nunca antes vivenciada pela
humanidade e onde é impossível prever quais os conhecimentos
importantes para cada indivíduo dado o dinamismo do mundo do trabalho,
enquadrar as tecnologias na lógica curricular em projetos supostamente
interdisciplinares é a opção lógica para nós professores, mas sem
sentido algum para nossos estudantes e suas demandas.

As tecnologias podem nos ajudar a trabalhar com aquilo com o qual a
Escola não está acostumada: a abundância!


 > 2 - Percebe-se que muitos professores têm dificuldades para
trabalhar com tais ferramentas. Há lacunas na própria formação docente?
E faltam treinamentos específicos?

Penso que não se trata de lacunas na formação, mas a inexistência de
processos formativos que tratem adequadamente a importância destas
tecnologias, não enquanto simples recursos didático-pedagógicos, mas
como vetores de transformação e, posteriormente, qualificação dos
processos educativos.

Outro elemento importante é que não tem mais sentido pensar em
treinamento em qualquer tipo de tecnologia, uma vez que elas mudam em
uma velocidade superior à nossa capacidade de reciclagem. Ainda sobre a
ineficácia de processos de formação, ao menos aqueles baseados na
aprendizagem de determinada tecnologia, está no fato de que para cada
tipo de programa que nós professores aprendemos a utilizar, existem
outros tantos que nossos estudantes utilizam e que também podem servir
a processos educativos.

Assim, é possível apontar que falhamos tanto processo de formação de
professores na graduação, quanto nas oportunidades de formação
continuada. No primeiro a questão das tecnologias é tratada de forma
periférica (quando o é) e instrumental, o segundo por sua vez,
privilegia o treinamento em determinadas tecnologias em detrimento ao
desenvolvimento de competências metodológicas.

> 3 - Quais são os benefícios da utilização de ferramentas digitais na
prática > pedagógica? E quais são as possibilidades?

A partir do contexto e das ponderações que fiz acima, não seria
coerente trazer aqueles benefícios que supostamente a utilização
tradicional da informática proporcionam. Assim, opto por trazer
rapidamente informações acerca do que temos pesquisado na Universidade
de Passo Fundo junto ao Grupo de Estudo e Pesquisa em Inclusão Digital. 

Partindo do princípio de que nada que possamos propor aos nossos
estudantes na área de tecnologia pode desafia-los de fato nem,
tampouco, prepará-los para um futuro que é imprevisível, começamos a
explorar possibilidades de apropriação das tecnologias que tenham por
base o desenvolvimento do raciocínio lógico, a resolução de problemas,
a criatividade e o desenvolvimento de pensamento sistematizado.

Dentre as possibilidades, temos explorado a programação de computadores
como alternativa para o desenvolvimento destas competências e que,
fatalmente, podem ter desdobramentos no desempenho dos alunos nas
demais áreas.


> 4 - Pode-se utilizar tablets, computadores e redes sociais? É
possível > exemplificar?

Com certeza é possível utiliza-los. Entretanto, exemplificar as formas
é inviável dada a flexibilidade destas tecnologias e de suas
características potencialmente positivas para o processo educativo.
Assim, seja qual for a atividade a ser realizada com a utilização
destas dispositivos, se não contemplar seu potencial comunicacional, de
compartilhamento e de autoria, vai na contramão da dinâmica vivenciada
pelos estudantes quando os utilizam e consiste na supressão de suas
possibilidades mais poderosas para a educação.


> 5 - Há resistências quanto à aplicação ode ferramentas digitais em
função de > tornar a aprendizagem superficial. Qual é a sua opinião?


Acho que a aprendizagem escolar tradicional, utilizando outros meios e
recursos, também tem várias limitações ou não estaríamos sempre nos
últimos lugares em rankings mundiais de qualidade de educação. A grande
questão não é as tecnologias que utilizamos, mas sim o conceito de
educação que adotamos e para o qual estas, e as demais, acabam servindo.

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